Desde sua criação, o automóvel vem passando por constantes aperfeiçoamentos. Novos materiais e processos de produção têm contribuído, década a década, ano após ano, para essa evolução. Porém, nem sempre nos damos conta de que outros fatores, tais como a melhoria da infra-estrutura viária e as mudanças culturais e comportamentais da sociedade, desempenham um papel igualmente importante no processo de transformação do produto automóvel. Os hábitos de cada período histórico costumam traduzir-se em necessidades que acabam por transformar os produtos ao longo do tempo. Alguns desses hábitos permanecem e aprofundam-se; Outros nem tanto, podendo até desaparecer por completo com o passar do tempo, deixando de integrar a lista de necessidades e exigências dos consumidores em geral. Um bom e recente exemplo é a progressiva abolição dos acendedores de cigarros nos automóveis - que de acessórios bem vindos na época em que fumar era um hábito que parecia conferir charme e elegância, tendo sido inclusive fartamente incentivado pela mídia - passou a ser encarado em tempos recentes como um problema de saúde pública, entrando para o rol dos comportamentos negativos e socialmente reprováveis.
Em meio a esse processo evolutivo, as partes que compõe o produto automóvel foram contribuindo para as mudanças em seu aspecto geral. O porta-malas, por sua vez, não é exceção à regra, tendo sido influenciado em suas características de forma, utilidade, localização e construção, na mesma medida em que a sociedade foi se transformando e alterando seus requisitos de uso. Senão vejamos:
Nossa primeira consideração deve recair no fato de que, ainda nos seus primeiros dias, a maioria dos automóveis carecia de qualidades como confiabilidade e conforto, exigindo de seus proprietários ou motoristas certos dotes de mecânica para o enfrentamento – muitas vezes sozinhos - de algumas emergências no meio do caminho. Tais imprevistos ocorriam, não raro, distantes de qualquer ajuda especializada. Isso porque os carros rodavam por estradas pouco ou nada preparadas em termos de infra-estrutura de assistência técnica de emergência, abastecimento ou acesso a meios de comunicação, tornando qualquer viagem uma aventura em potencial e fazendo com que as pessoas evitassem, na maioria das vezes, percursos mais longos, destinados por isso mesmo a uns poucos audaciosos; Tal fato tornava a necessidade de acondicionamento de grandes quantidades de bagagem uma situação rara. De um modo geral então, os carros eram utilizados em percursos relativamente curtos, suficientes apenas para se fazer um bom piquenique entre familiares e/ou amigos na zona rural mais próxima, um hábito relativamente comum no início da história do automóvel.
Acima quatro integrantes de um grupo de cinco felizes “piqueniqueiros” (o quinto está tirando a foto) e um Ford Modelo T de 1912. O piquenique era então um hábito popular. |
Por volta dos anos 1910, alguns cupês ou runabouts já apresentavam uma espécie de ancestral do porta-malas moderno, enquanto que nos modelos maiores, do tipo touring ou sedans era comum a utilização de baús acomodados em racks afixados à carroceria, primeiramente aproveitando-se as plataformas de apoio proporcionadas pelos estribos, sendo que num segundo momento generalizou-se a fixação dos baús na parte traseira desses modelos.
A história da evolução do porta-malas continua em um futuro post.
Créditos das imagens: Conceptcarz, Shorpy, Detroit Public Library, arquivo pessoal. Montagens fotográficas feitas exclusivamente para AutoTimeline.
Pergunto: Se os porta-malas fossem colocados na capota do carro, com desenhos aerodinâmicos, não teria sido melhor?
ResponderExcluirEu fiz um esboço do BMW-Dixi 3-15 de 1928 nessa configuração e gostei.
Aplicando-se esse conceito, os carros poderiam ser menores e certamente mais práticos.